CONSTRUÇÃO CIVIL: UM 2023 PROMISSOR

CONSTRUÇÃO CIVIL: UM 2023 PROMISSOR

A construção civil é um dos motores da economia brasileira. Somente em empregos diretos, são mais de 2,5 milhões e uma contribuição de R$ 700 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB), segundo os indicadores produzidos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com a Associação Brasileira de Incorporações Imobiliárias (Abrainc). São, sem dúvida, números superlativos, o que leva ao questionamento de como o setor irá se comportar em 2023. É natural que o desempenho acompanhe a economia, o que neste caso seria motivo para pessimismo, uma vez que, de acordo com projeções do Banco Central, pode ocorrer uma desaceleração, com uma inflação prevista de 5% e um incremento de apenas 1% no PIB.

No entanto, o histórico recente e os dados disponíveis até o momento podem apontar o sentido contrário. O setor vem de resultados positivos e, ao mesmo tempo, as sinalizações do novo governo dão conta de que serão feitos investimentos e estímulos, especialmente no que diz respeito a moradias populares.

Embora ainda não existam dados consolidados de 2022, os números dos três primeiros trimestres do ano passado apontam para resultados muito positivos. Entre janeiro e setembro do ano passado foram comercializadas mais de 112 mil unidades, um avanço de 13% em relação ao período anterior.

E, embora o número de lançamentos tenha diminuído em quase 5%, as vendas líquidas cresceram 14%. Isso significa um estoque menor, que – somado a alta dos juros – pode constituir aumento nos preços em 2023. Levando em consideração que, de acordo com os dados de 2022, a maioria das unidades comercializadas (71%) estava vinculada ao programa Casa Verde Amarela, vislumbramos um 2023 mais difícil para os segmentos médio e principalmente para o de alto padrão, já que para este perfil de consumidor a preferência em cenário de taxa básica de juros próximo a 14% é alocar os recursos no mercado financeiro em detrimento a aquisição de imóveis.

Devemos lembrar que em 2021 e com consequente reflexo em 2022, o mercado se beneficiou pelas baixas taxas de juros aplicadas aos financiamentos. Naquele período, a pressão inflacionária era menor, o que não ocorre agora. As taxas de juros aumentaram, consequentemente, dificultando o acesso ao crédito pelos consumidores e não há sinais de que devam cair em um curto espaço de tempo.

Mesmo com os bons resultados de 2022, o efeito da alta dos juros já foi sentido a partir do segundo trimestre do ano passado. As vendas, em comparação com 2021, seguiram crescendo, mas em um ritmo menos acelerado, com um incremento de apenas 1,4%. Da mesma forma, os financiamentos caíram 31,6%. Além dos juros, os preços também estão maiores, já que o aumento no preço dos insumos tiveram que ser repassados.

Com valores maiores e financiamentos mais caros, a indústria volta seus olhos às moradias populares. Em 2023, o novo governo rebatizou o programa, que voltou a se chamar Minha Casa Minha Vida e promete mais investimentos. O valor investido ao longo dos últimos anos demonstra que o programa foi enfraquecido, saindo de R$ 1,5 bilhão em 2020 para R$ 1,2 bilhão em 2022. Mesmo assim, seguiu sendo o que registrou maior volume de vendas nos primeiros nove meses de 2022.

Mesmo tendo em vista uma economia em desaceleração e juros que permanecerão altos, o panorama segue sendo positivo, até pelo histórico. O ano de 2021 foi o melhor da história para o setor e, mesmo com uma desaceleração, 2022 foi o segundo melhor. Ainda que o número de lançamentos de médio e alto padrão diminua, há uma real expectativa de que as habitações acessíveis seguirão puxando o mercado para os bons resultados.

O novo governo federal já sinalizou que os subsídios para o novo Minha Casa, Minha Vida, serão na ordem dos R$ 10 bilhões. Há que se lembrar ainda que, ao apagar das luzes do governo anterior, foram decretadas algumas medidas que também ajudarão a manter o mercado aquecido. Entre elas está a utilização do FGTS futuro para ampliar a capacidade de compra do trabalhador, aumento do teto no valor máximo do imóvel e ampliação das faixas beneficiadas.

Diante de todo este cenário, é possível afirmar, com confiança, de que a construção civil seguirá sendo um dos motores da nossa economia em 2023, além de um dos grandes geradores de emprego do país. Os resultados dos últimos anos demonstram a resiliência de um dos setores que menos foi afetado pela crise gerada pela pandemia da Covid-19. As perspectivas para o segmento são positivas, embora ainda haja preocupação dos executivos em relação ao controle da inflação e redução da taxa básica de juros. No entanto, passar pela pior fase da pandemia com crescimento demonstra a força deste setor e o quanto ele pode contribuir para a economia em 2023.

*Diego Bastos é sócio da BDO Brasil e especialista no mercado de Real Estate